2009-06-21

Unchained Melody…

Hoje volto a falar de uma música que me diz muito.

Escrita há já muitos anos (em 1965), conta com infindáveis versões (noutros tantos estilos), uns melhores que outros. Unchained Melody dos Righteous Brothers é daquelas músicas que nunca irá perder o seu momento, que será sempre ouvida e respeitada pelos tempos fora. Poucas são as músicas que conseguem criar uma emoção tão forte e tão contida, tão arrebatadora que depois explode em choro e lamento tão libertador de emoções, se me permitem: nenhuma outra música consegue ser isso tudo!

Como poder facilmente concluir, esta música é tão pouco e tão só a minha música preferida de todos os tempos. Por isso costumo ser muito crítico em relação às mil e uma versões que se gravam da música, e às milhentas vozes que se atrevem a cantá-la. Poucas se equiparam e conseguem transformar aqueles 3 minutos em momentos únicos e plenos como os que Bill Medley e Bobby Hatfield proporcionaram à Humanidade.

Mas tenho que tirar o chapéu e dar os parabéns a um jovem que tem se esforçado por tornar a sua versão cada vez melhor, que aplica a sua alma quando canta esta música. E quando há alma naquilo que se faz só pode sair um tesouro. Infelizmente este tesouro foi afastado dos palcos de um simpático concurso musical que tem acontecido nesta cidade, o Funchal a Cantar 2009.

No mínimo é de lamentar que o grupo que faz a selecção das vozes, se enganasse ao ponto de não considerar que ele tivesse o talento necessário a representar a sua freguesia, a sua voz o seu talento e… a sua brilhante versão do Unchained Melody. Em seu lugar vão pessoas que nem são da cidade do Funchal (tal como o regulamento assim o estipula) e com vozes duvidosas…

Não estou a dizer mal de ninguém, alias esta iniciativa é brilhante! E o trabalho de avaliar é sempre ingrato e incómodo, mas seguir as regrar já ajuda e simplifica o trabalho…

Este Funchal a Cantar, tal como o vencedor da eliminatória do Imaculado Coração de Maria já comentou, mais parece Câmara de Lobos a Cantar. Em seis eliminatórias, 3 vencedores são daquele concelho… Dá que pensar. Isto não é xenofobia ou algo que se pareça, mas nos concursos que se realizam nos outros concelhos da Região, os funchalenses não podem entrar.

Mas para poder provar que tenho razão acerca da injustiça, quero-vos deixar com a versão de Paulo Silva do Unchained Melody.

Paulo, um grande abraço e muito obrigado por esta versão! Lembra-te a vida é feita de pequenas grandes injustiças, mas o tamanho da nossa cruz tem razão de ser, e um dia olhas para trás e vais ter orgulho do caminho que trilhaste!


http://www.youtube.com/watch?v=qBi2AILnd_g

http://www.youtube.com/watch?v=GhvXt3Uz8uw

2009-06-11

Para reflectir…!

 O autor deste texto é João Pereira Coutinho, jornalista.

Não tenho filhos e tremo só de pensar. Os exemplos que vejo em volta não aconselham temeridades. Hordas de amigos constituem as respectivas proles e, apesar da benesse, não levam vidas descansadas. Pelo contrário: estão invariavelmente mergulhados numa angústia e numa ansiedade de contornos particularmente patológicos. Percebo porquê. Há cem ou duzentos anos, a vida dependia do berço, da posição social e da fortuna familiar. Hoje, não. A criança nasce, não numa família mas numa pista de atletismo, com as barreiras da praxe: jardim-escola aos três, natação aos quatro, lições de piano aos cinco, escola aos seis, e um exército de professores, explicadores, educadores e psicólogos, como se a criança fosse um potro de competição.

Eis a ideologia criminosa que se instalou definitivamente nas sociedades modernas: a vida não é para ser vivida, mas construída com sucessos pessoais e profissionais, uns atrás dos outros, em progressão geométrica para o infinito. É preciso o emprego de sonho, a casa de sonho, o maridinho de sonho, os amigos de sonho, as férias de sonho, os restaurantes de sonho.

Não admira que, até 2020, um terço da população mundial esteja a mamar forte no Prozac. É a velha história da cenoura e do burro: quanto mais temos, mais queremos. Quanto mais queremos, mais desesperamos. A meritocracia gera uma insatisfação insaciável que acabará por arrasar o mais leve traço de humanidade. O que não deixa de ser uma lástima.

Se as pessoas voltassem a ler os clássicos, sobretudo Montaigne, saberiam que o fim último da vida não é a excelência, mas sim a felicidade!